Até um dia
02:59 | Author: Bruno



Chega-te a mim… vou dizer-te porque me dói. Talvez depois percebas porque me dói cá por dentro, sabes?
O coração, o peito, a alma. Os olhos irrequietos e tristes que não encontram onde poisar.
Houve um tempo em que sentia a tranquilidade sempre que os teus olhos olhavam para mim.
Pensei que o amor podia ser a cura. Mas afinal foi o mal.
Pensei que as palavras eram verdade. Mas afinal eram mentira. Tudo foi mentira. Talvez até o amor.
Pensei que aquela mulher que me mostravas ser, eras tu. Mas errei.

É sempre assim, não é?
Quando um dia acordamos e percebemos que passámos metade do tempo à espera. Quando sabemos que nada virá. Quando cá por dentro já sabíamos que não havia o que esperar. Quando já nem me sentia com idade para esperar pelo que quer que fosse.
E esperei mesmo assim.
Talvez sejam as coisas tontas que dizemos e fazemos por amor. Que queremos seguir e andamos às voltas, sem nunca sair do lugar. Sempre com uma esperança renascida de que talvez… mas nunca é.
Depois é tempo de aceitar.
E passamos outro tempo a tentar não lembrar. Não lembrar aquilo que o nosso coração teima em não esquecer.
As esperas são sofrimento, sabias? Rebentamo-nos por dentro nas noites que seguem os dias em que não há uma voz, um estar perto. Nada. Há apenas nada. Vamos ao limite. Chegamos à linha em que ou saltamos e caímos, ou decidimos caminhar, voltar atrás. O que não sabemos é que o caminho de volta, muitas vezes, é o mais doloroso.
Um dia dizemos basta. Um dia dizemos que nunca mais.
E depois um dia, mais tarde, voltamos a repetir tudo outra vez. Outra vez pensamos que sim, afinal é não.
Tudo se repete quando se ama com o lado errado do peito. Até as coisas erradas. Porque gostamos. Porque sabemos o que é gostar e queremos sempre ter de novo o coração assim, aconchegado noutro coração.

Pouco importa. Um dia já não sentiremos o peito apertado. Já não teremos os olhos rasos de água. Já é um doer devagar, que mói mas não magoa tanto. Já não sentimos o coração a soluçar baixinho.


É por isso que me dói…
Precisei acreditar em ti. E acreditei. Que podias gostar de mim, de verdade. Sentia-te como um anjo que me caiu no prato da sopa. Precisei depois acreditar que afinal, eu não era assim tão importante.
E precisei sorrir ao mundo como se fosse o homem mais feliz, quando me sentia o mais vazio, incompleto e só.
Quanto mais te queria esquecer, mais te lembrava. Eras tu em tudo. Nas musicas, nos lugares, nas palavras, nos sorrisos. Sempre tu. Porque estavas cá. Mas eu já não te sentia, ou já não queria que estivesses aqui, não sei.
Mas foste e serás sempre alguém que lembrarei com carinho. Porque não esqueço do bater do teu peito. Não esqueço os teus abraços nem o teu riso. Não esqueço que me fizeste sentir alguém mesmo muito especial, na parte do tempo em que me lembravas que pensavas em mim. Não esqueço que me fizeste sentir o sangue correr nas veias e fazer loucuras. Não sei se por ti, se por mim. E cá por dentro, os dias felizes, mesmo assim, se tornam maiores que os meses tristes.
Não esqueço que me provaste que eu era capaz. Outra vez. Depois da desilusão, voltar a voar.
Fui capaz e serei sempre. Porque cometerei todos os erros repetidamente. Quem sabe só assim a vida faz sentido? Quando por amor nos esquecemos de todas as lágrimas que alguém nos causou?
E aprendi também que quanto mais transparente for, mais invisível me torno. Não posso ter este coração na boca nem os pensamentos na ponta da língua. Preciso aprender o jogo. E o jogo é ganho por quem mais esconde.

É por isso que me dói… Não sei se entendes o que te quero dizer. Nem sequer sei se vale a pena dizer-te o que quer que seja. Porque quando se fala do que se sente, quase nunca o outro sabe realmente do que estamos a falar.
Mas dói-me mesmo assim…
Mas agora, tu sabes, é tarde demais.
Guardaste as palavras escondidas no peito, por medo. E deixas que voem em liberdade quando já não podem trazer um sentido de liberdade a ninguém. Sofri tudo o que tinha para sofrer. E não vou deixar que entres outra vez para me abalar a paz, a vida.

Ficou tanto por dizer… mas agora, já pouco importa, sabes? Podia repetir todas as palavras, voltar a dizer o que vai cá por dentro. Mas sempre o disse. Tu já sabes.
E há horas em que as palavras não dizem tudo, horas em que não conseguimos que os outros entrem em nós só para saber.

Quero mesmo é que sejas feliz, que consigas amar… mas com o lado certo do peito. E que o medo nunca te faça deixar de tentar. Que o medo nunca te faça deixar de dizer as coisas boas, enquanto é tempo. Enquanto vale a pena. Nas despedidas já não temos nada a perder, não é? E vê tu que foi preciso dizer “até um dia” para que fosses capaz.
Vive assim… dizendo as coisas boas que tens aí por dentro, sentindo que já nada tens a perder. Sabes? É que gostar também é dizer que gostamos. Porque gostar também é aliviar a dor daqueles que nos querem bem.
Que se olhares para trás lembres do homem que fui enquanto te amei. Porque afinal, as minhas histórias ficam sempre por viver.

É por isso que me dói o peito. Porque depois de tudo não consegui dizer-te que houve uma altura em que, cansado, rendi-me. E deixei de te procurar. Obriguei-me a isso, entendes? Não porque já não gostasse, mas porque precisava. O que não podia era sentir que rastejava por amor, que mendigava por um resto de qualquer coisa. Porque não sou assim. Porque quero e mereço mais.

Fiquei no meu canto esperando que tudo passasse. Porque sempre passa, não é?
E depois, mais tarde, esqueci-te, desisti e abandonei-te… por sentir que era precisamente isso que tinhas feito comigo…


E eu!?
Eu vou viver. Vou carregar o coração nas mãos e colar todos os pedaços. Vou viver da melhor forma que sei, porque é tudo o que posso fazer. Vou olhar toda a imensidão do céu e toda a vastidão do mar para sentir paz, ou outras vezes pequeno. Vou sorrir uns dias e nos outros lutar por isso.

E Eu!?
Ora, eu vou ser feliz…

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1 Viajantes:

On 13 de maio de 2008 às 19:39 , Ana disse...

Deixas-me com o coração nas mãos.. Simples.

=)